Imersão Ounão Encanta Vale 2011

NO FINAL DE SEMANA QUE ACONTECE A VIRADA PAULISTA, PROJETO ENCANTA VALE IDEALIZA REVOLUÇÃO CULTURAL NA REGIÃO E FAZ HOMENAGEM AO MOVIMENTO NEGRO NO TERCEIRO FESTIVAL DE INVERNO DO PARQUE NÁUTICO DE JAGUARA.

No dia 13 de maio comemora-se a Abolição da Escravatura no Brasil. A palavra “abolir” significa acabar, eliminar, extinguir. A escravidão foi oficialmente extinta nesse dia por meio da Lei Áurea. “Áurea”, por sua vez, quer dizer “de ouro” e – por aí – você pode imaginar o valor que se deu a essa lei, com toda a razão, e por este motivo o Encanta Vale 2011 fará uma homenagem ao movimento negro.

“É o compartilhar de uma massa de idéias e reações emocionais pelos membros de uma sociedade que dá a esta sociedade unificação das vontades e a capacidade de ação voluntária conjugada”. Ralph Linton – O Homem uma introdução à antropologia.

O Encanta Vale é idealizado pelo fotógrafo e produtor cultural Ernani Baraldi. O projeto é uma miscelânea cultural que promoverá encontro de vários artistas independentes que idealizam a cultura popular, manifestações urbanas, artes visuais e diversas atividades coletivas que visam fortalecer os aspectos culturais das comunidades receptoras, promovendo intercâmbio cultural.

“Nos últimos seis anos, estudos antropológicos me trouxeram a necessidade de compartilhar vivências aquém do mundo corporativo, uma peregrinação entre manifestos socioculturais de tribos que pesquisei durante quatro anos na babilônia cosmopolita São Paulo. Esta pesquisa me projetou a distintos nichos de indivíduos híbridos multiculturais e pluriétnicos, que vivem uma antropofagia visual de vanguarda. Estes indivíduos, e suas atividades artísticas, revelam um movimento modernista revolucionário”. Ernani Baraldi

Foi em dois mil e nove que nasceu o Encanta Vale, o nome é referente ao vale onde fica a cidade de Rifaina, ao norte do estado de São Paulo, terra natal do idealizador. A cidade encontra-se no flanco direito do canyon do rio grande, estando numa região da era mesozoica (650 milhões de anos) do complexo da canastra. Por este motivo, e não é de se espantar, que o lugar seja especial, mas na percepção de Ernani, deixou de ser encantando, pois aos poucos Rifaina foi perdendo sua identidade cultural por causa de diversos momentos econômicos e políticos, assim como muitas outras da região que vivem a dor corrompida de uma hipnose generalizada do plin plin.

Ernani entristece ao falar, pois ele vivenciou uma dura rotina de re(adaptação) quando voltou a viver por lá. Isolado, manteve-se concentrado em seus projetos, desempregado (na visão de muitos) ele dedicou noites sem dormir para sonhar, e descansou dormindo a espera melancólica de dias melhores. Ao perceber que muitos de seus amigos esqueceram “que o essencial é invisível aos olhos” estudou para melhorar o que ele acha sobre liberdade, e é essa liberdade do pensamento.

O Encanta Vale, nasceu com o propósito de promover e unir expressões culturais com diferentes linguagens na região do vale do Rio Grande. Em sua versão coletiva de 2009 participou: Grupo Viralatisse, Daniel Wolf, Paula Avalá, Luna Borges, Samuel Rosa, Gleds Lima, grupo percussivo de Rifaina, Projeto Causa Efeito Luis Birigui e projeto cidade aprendiz Wagner Roza, a direção ficou por conta de Andréz Gonzales e Ernani Baraldi, a produção executiva contou com Raquel Zucchi e Angela Gaeta, cenografia Camila Sousa e Fenanda Telles, captação de imagens Thiago “zé” e figurinista foi Cybelle Meireles (in memoria).

Os apoios institucionais vieram da Prefeitura Municipal de Rifaina, por parte da Secretaria de Cultura, secretário Cézar Barsanulfo e Secretario de Meio Ambiente Carlos Baraldi. Já os apoios culturais vieram da empresa de transportes Urubupunga Turismo, Projeto Fotógrafo Urbano, Aguas do Vale Hotel, Porto Marina Farol e Marina Maré Alta Rifaina. Todos os artistas doaram seus cachês.

Em 2010, com formação reduzida, por problemas técnicos e políticos, a nova versão que levaria 12 horas de cultura para Rifaina foi adiada, entretanto executou-se uma ação cultural que Ernani titulou de “ataque soviético” menção a frase que o grafiteiro Sola de São fez num certo dia. Esta ação teve o apoio dos artistas do grafite art de São Paulo: Finok, Ise, Toes, Magrela, Sinhá, Sola e Pique, contou com apoio da pousada da Pedra e Parque Náutico de Jaguara e, ainda, colaborou Rica Luz de Franca, e o fotógrafo Victor Herege de São Paulo.

O Encanta Vale quer democratizar o acesso e a fruição do modo de fazer e criar das culturas populares e urbanas, buscando união dos manifestos apresentados com as comunidades que englobam todo o flanco direito e, também as que estão no esquerdo, ou seja, do lado mineiro. Este ideal manifestado quer fomentar projetos relacionados a estes movimentos aqui na região, promovendo turismo sustentável para assim, fortalecê-lo para bem receber a copa de 2014 e olimpíadas de 2016, dois grandes eventos que atrairá muitos turistas estrangeiros e brasileiros, qual o Parque Náutico de Jaguara postulou projeto para sediar uma delegação esportiva.

O Encata Vale 2011, esta em sua terceira edição e já demonstra um elevado grau de maturação, onde o mesmo, neste ano, será expresso no terceiro Festival de Inverno do Parque Náutico de Jaguara, que é o patrocinador oficial do projeto, através da lei de incentivo a cultura (lei rouanet).

Além de democratizar o acesso à cultura, o projeto objetiva principalmente, a visibilidade do fazer cultural deste coletivo de artistas que se encontram fora da mídia e dos espaços formais da grande produção cultural, apresentando uma visão crítica e ao mesmo tempo sensível do momento social de criadores e criaturas.

Tendências de vanguarda, diversidade cultural, manifestação de cultura popular, difusão, entretenimento e sustentabilidade.


•Encontro de pessoas das mais diversas culturas e influências relacionadas aos manifestos de arte e cultura popular, cultura digital e movimentos independentes;

•Integração com a singularidade das comunidades locais.

•Oportunidade de divulgação do trabalho independente e ampliação do mercado para os artistas envolvidos.

•Projeto inovador, diferenciado aos que acontecem na região, despertando interesse em constituir e continuar a promover atividades culturais relacionados às atrações apresentadas, “de tal forma que a comunidade, os seus membros e as suas economias possam preencher suas necessidades e expressar o seu maior potencial no presente atingindo pró-eficiência na manutenção indefinida desses ideais”. Conceito de sustentabilidade


PROGRAMAÇÃO

No dia 14.05 sábado, a miscelânea cultural tem início às 13 horas com apresentação do grupo BAQUE SINHÁ. Coletivo percussivo de São Paulo formado exclusivamente por mulheres. Sua proposta traz releituras de folguedos da cultura popular brasileira, como: maracatu de baque virado, yjexá, barravento, jongo, côco de roda e quebra-prato.

Elas começarão sua intervenção em cortejo pelas ruas do Parque até o palco principal onde continuam com seu espetáculo. “Antigamente, o cortejo era feito em homenagem aos Reis de Congo, representantes do povo negro. O nome “cortejo”, em Pernambuco, é usado quando as Nações de Maracatu saem às ruas, acompanhadas de suas respectivas cortes”. Realese projeto maracatu bloco de pedra

Logo em seguida, ainda na vertente afro-brasileira o GRUPO CANGARUSSU – também de São Paulo – inicia um espetáculo que une elementos da cultura indígena e afro-descendente, buscando apresentar a diversidade e a miscigenação cultural características do nosso país. Em seu espetáculo, alfaia, gonguê, agbês, timbas, caracaxá, maracas e caixa brincam com o canto e a dança. Num jogo simbólico, rítmico e envolvente, batuque, voz e corpo unem-se na tentativa de poetizar a diversidade brasileira.

Além das apresentações no palco principal, o Encanta Vale apresentará manifestações de arte urbana com live paint de grafite art com nomes expressivos do grafite nacional e internacional como: Prila Paiva, Magrela, Sinhá, Sola, Birigui, Wagner Roza, Mari Mats, , Fino e Cispeo, (São Paulo), Rodrigo Tas, Acir Zul (Franca) L7M (Bauru) e outras “crews” que preferem não divulgar seus nomes.

O coletivo de jovens produtores formado por Alexandre Manoel, Thiago Gomes, Jeremias Nunes, Danielle Braga e Dedo Zukla de São Paulo estarão expondo suas criações – originais – e farão workshop sobre o processo de criação das HQ´s (histórias em quadrinhos). Prila Paiva da Oca Haru estúdios, além de grafitar, irá discotecar e fará exposição de suas pesquisas afro-indígenas e brasilidades, juntamente com Discos Finos que traz essência ao vale passando por suas pesquisas do sound system jamaicano aos mais raros vinis, afrogrooves de primeiríssima classe, dois artistas reconhecidos na cena paulistana. Para completar o fim da programação vespertina, som experimental do coletivo GUERRILHA GIG de Franca que na sua base é formado por pessoas interessadas na difusão e promoção dos valores da cultura independente, produção cultural e acesso às tecnologias livres, também é integrado à Rede Fora do Eixo, a maior rede de cultura independente do país.

PROGRAMAÇÃO NOTURNA 14/5 – MESA REDONDA SOBRE MOVIMENTO DE ARTE INDEPENDENTE E MOVIMENTO NEGRO NO BRASIL

A segunda parte do evento acontecerá a partir das 20h30min. Mesa redonda sobre o movimento negro no Brasil e suas comunidades. A mesa contará com Amir Salomão Jacob, professor, escritor e superintendente de cultura e turismo de Sacramento-MG, Professor Berto Cerchi membro da academia de letras do triangulo mineiro. Também participa da mesa o jornalista, cineasta e crítico de cinema Geraldo Elísio que apresentará suas pesquisas nas vertentes afro-brasileiras. Gilberto Santana (grupo Cangarussu) e Carmelita Spreen (Instituto Pestalozzi) debaterão sobre racismo. Ser negro e nordestino em São Paulo.

Thiago Gomes da Naquin Beat, Alexandre Manoel revista subversos e Dedo Zukla da revista Mad apresentarão o documentário graficamente falando – entrando nas páginas das HQ ´s independentes de São Paulo. O jornalista da revista Rollin Stones e Curador do café filosófico da TV Cultura, Alex Antunes presidirá a mesa sobre o movimento de arte independente. Serão debatedores o diretor da revista ounão e produtor cultural – Didi Monteiro – Rica Luz produtor musical de Franca, Daniel Michoni publicitário de São Paulo, Tiago Lellis, Carlos Henrique Ribeiro Gomes, Bruno Morais Batista, Rodrigo Tas e Eduardo Berdui do coletivo Guerrilha Gig e Fora do Eixo – Franca e Ernani Baraldi, fotógrafo, produtor cultural diretor do Encanta Vale. Os participantes poderão intervir e debater sobre os temas relacionados.

A programação da mesa redonda termina e logo em seguida acontece exibição de documentários, apresentação dos coletivos e também uma “baladinha cultural” que contará com boa música comandada pelos produtores musicais Mats de sampa e Rica Luz de Franca. E ainda, participação de Discos Finos , Haru e quem mais quiser entrar na brincadeira de experimentar novos sons. A entrada é franca, porém para participar da mesa redonda e confraternização é necessário enviar nome para lista fotografoernani@gmail.com . Vale ressaltar que o consumo deverá ser pago no final através de uma comanda identificada, na recepção do hotel Jaguara.

No domingo acontece escambo (trocas e vendas) de peças únicas, bazar com exposição dos trabalhos dos artistas envolvidos, mostras permanentes de fotografias, oficina de Maracatu, grafite parangolé com Sandra Pestana do teatro de senhoritas e Luis Birigui do projeto causa efeito. Oficina de fotografia, cultura digital e edição de vídeo oferecido pelos fotógrafos, editores e produtores que estarão cobrindo o evento. Apresentações com jovens de Rifaina e folia de reis de Pedregulho.

O Evento será gravado com parte do projeto documentário histórico dos artistas evolvidos.

•Quando: 14/5 e 15/5

•Horário: Das 13 às 17 horas e programação noturna a partir das 20h30min

•Quanto: 1 kilo de alimento que será doado a instituição de caridade

•Onde: Parque Náutico de Jaguara
Rod. MG 428 KM 102
Jaguara
Sacramento-MG – 5 km de Rifaina-SP
•Contato: (34) 3351-9150 / 16 9244-4411 / fotografoernani@gmail.com

Diário de Bordo
 Foto Polonês
III Festival de Inverno do Parque Náutico do Jaguara/Encanta Vale 2011.

A revista ounão foi convidada pelo produtor cultural Ernani Baraldi para fazer parte do grande festival de inverno do Parque Náutico do Jaguara e do projeto Encanta Vale 2011. Essa iniciativa pode ser chamada de um grande coletivo de produções artístico-culturais que envolvem artistas e produtores de São Paulo e Minas Gerais: músicos, artistas visuais, produtores e outros agentes culturais estão envolvidos nessa proposta que visa incluir essa região do Brasil no roteiro cultural do país.

Foto Polonês
Neste tópico faremos um diário de bordo, onde iremos transmitir as impressões da Ounão em relação a este festival. Além disso, a Revista Ounão está encarregada de fazer uma matéria do sobre o evento, conversar com os agentes culturais envolvidos e com a comunidade local, com o intuito de tornar pública essa iniciativa cultural que é uma ferramenta agregadora de manifestações artísticas de vanguarda e de pessoas que estão pensando e promovendo cultura de maneiras mais democráticas e próximas.
1º Dia
 Foto Polonês
Saímos literalmente correndo de São Paulo, mais precisamente do bairro da Vila Madalena onde acontecia uma entrevista que fará parte da 5ª edição da revista ounão. Depois de pegar o metrô na estação Sumaré, fazer baldeação na Paraíso, chegamos à estação rodoviária do Tietê onde o artista visual Polonês estava literalmente segurando o ônibus, embarcamos.
Foto Polonês
A viagem foi tranqüila, atualizamos as informações com o Polonês no buzão e aproveitamos para descansar um pouco, afinal, logo cedo teremos muito trabalho. Descemos no local combinado, no trevo de Rifaina-SP, Ernani já nos aguardava e de lá seguimos para o Parque Náutico do Jaguara onde ficaremos hospedados. Ernani – na madrugada – nos abastece com uma avalanche de informações e ótimas novidades sobre o evento, com o dia raindo (como se diz no interior) aproveitamos para cochilar um pouco.  


Já no início da manhã fizemos um reconhecimento do espaço onde serão montadas as estruturas que abrigarão os grupos de grafite, a chegada dos blocos de Maracatu e outros pormenores da produção. O dia foi de apresentações e reuniões entre os produtores que já estão em Sacramento-MG, cidade onde acontece o evento, bem como um breve reconhecimento da cidade.

A sexta-feira será de muito trabalho para a equipe de montagem dos espaços e últimos acertos de produção. É isso ai galera, começou o Encanta Vale 2011. No próximo diário traremos o resumo da sexta-feira com a chegada de todo esse coletivo ao Parque.

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