Cedo e Sentado 26/04

texto por Escobar Franelas | Coletivo Ounão

fotos por Adriano Singolani


Noite quente de terça-feira

Chego às 10 da noite no Studio SP, na rua Augusta, centrão da Sampalândia. Noite fria lá fora, aqui dentro o clima esquentando. O espaço do Studio é muito bom, dividido numa área retangular com o palco central, perfeitamente integrado ao meio. No todo, há três bares dispostos providencialmente, um logo à entrada, à direita do palco. Outro à esquerda, bem ao fundo. Sobre a cabeça deste último estende-se uma escada que leva ao pavimento superior, onde mais um bar nos aguarda.
Em frente ao palco fica a cabine do vj da casa, responsável pela distribuição das imagens nos dois telões, um logo à entrada e outro no mezanino acima. No caminho entre o palco e o backstage e os banheiros fica  a mesa de som, e do outro lado, a meio caminho de uma das portas de saída, está a cabine do dj e a banquinha do Fora do Eixo, sempre repleta de discos, livros, camisetas e outros souvenirs da tribo do Circuito Fora do Eixo.
DJ Diosanto
Enquanto a galera flerta à vontade, com seus copos e garrafas à mão, observo a profusão psicodélica nos telões enquanto das pick-ups escapa um som convidativo para a pista. Poucos se aventuram no início, um pouco pela influência do frio lá de fora, e muito pela falta de álcool suficiente nas veias. A pista, porém, está a postos. Entre gorós, biritas, cervas e muita azaração, a galera vai chegando.
Luzes rútilas, caixas de som efervescendo, as veias da noite antes fria agora já pulsam quentes, a simpática banquinha do FdE toda sortida, colorida, cheia de vida, conteúdo e independência, os minutos avançam para uma madrugada que promete ser memorável.
Camila Cortielha, hostess da casa, sobe e anuncia primeira atração, O Melda. “Banda de um homem só”, ou monobanda – como se autoidentifica – O Melda é Claudão Pilha, ex-baterista da anárquica banda Os Meldas, que incendiava Belo Horizonte nos anos 80 e 90. Depois tocou no Estrume´n´tal.
Dotado, porém, de curiosidade, sarcasmo e virulência suficientes, O Melda tornou-se um performer noisy solo. Com todas as bases pré-gravadas, ele, guitarra na mão, macacão de bombeiro (ou borracheiro, tanto faz), e seu indefectível capacete percussivo, tornou repentinamente a noite mais alegre e quente, botando o público para cantar e dançar sob o efeito de sua letras hilárias. Com um som punk gutural gestado no melhor estilo do it yourself, desfilou em seu show um rosário de músicas exarcebadas, engraçadas e escrachadas, no maior vigor juvenil.
Após o set d´O Melda, a bela Camila voltou ao palco, agora travestida de Mi Simpatia, heterônimo com que assina suas incursões pelas pick-ups, despejando nas caixas tecnos viajandões, alguns trazidos da década de 1980 até os dias atuais. A noite ainda mais quente…
Por fim, o Maglore (Teago Oliveira, voz e guitarras; Léo Brandão, teclado e guitarras; Nery Leal, baixo; e Igor Andrade, bateria), fez a ponte aérea entre a nova cena roqueira baiana e a vigorosa poesia brasileira presente na música popular. Baianidade à mostra, o Maglore (corruptela linguística de “My Glory”), exibiu suas sutis viagens sinestésicas que associam diversas informações sonoras, que passam por Mutantes/Caetano Velos (“Baby”), como ficou provado na belíssima interpretação do grupo.
O show começou mais emepebístico mas foi crescendo em pulsão e atitude, até um final apoteótico que juntou no mesmo caldeirão tanto Raul Seixas e Belchior, quando uma nervosa massa sonora metaleira O público, ávido, queria mais, mas aí já era hora da intevenção da simpaticíssima (ok, não vou me furtar a manter esse pleonasmo sincero), Mi Simpatia para acalmar o que já estava fervendo, fechando positivamente mais uma noite de ouro do Projeto Cedo e Sentado, parceria do Studio SP com a Casa Fora do Eixo.

Powered by Blogger